quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Bloguear, orcutear e as hiper-relações

Em sua firme resistência, meu marido viveu sem ORCUTE até o limiar deste final de década. Reação à exposição? Não exatamente... Vejam. Ele não é arisco às tecnologias da rede. Seu blog nasceu antes da página de relacionamentos, onde estão os seus (omitirei o número) amigos de fé. Atitude contraditória? Afinal, ele teme ser visto pelo mundo? Penso que não! Por quê? Tentarei explicar.

Existem espécies distintas de exposição para diferentes faixas etárias, distintos “espíritos” ou propósitos de uso. O renxaqueca.blogspot diz muito sobre o garoto jornalista meu marido. No diário virtual, a verve renateana é exposta sem pudor. A foto do blogueiro está lá e as porteiras da internet estão abertas para quem quiser passar, deixar seu comentário ou segui-lo à guisa de fã.

Assim, sem enumerar hipóteses ou justificá-las, sigo, sem rodeios, à conclusão da questão inicial: Por que meu marido prefere bloguear e não orcutear? Porque escolhemos a exposição que melhor nos cai. Como assim?

Na página de relacionamentos, iludimo-nos com a possibilidade de bloquear intrusos, de sermos onipresentes e quase celebridades – que o digam os detentores de milhares de amigos. Escolhemos como nos mostrar – parecendo ser o que queremos parecer, com o melhor ângulo, o sorriso mais feliz ou o mais entediado dos entediados olhares adolescentes, sempre acompanhados de frases de (d)efeito!

Dispensadas as brincadeiras, neste democrático jogo virtual, os medos são diversos: como suportar uma lista minguada de contatos? Afinal, por vezes, ser popular é questão de honra! Como administrar essa ferramenta quando se é tímido? Para todos os tipos, as perguntas: como evitar os chatos de plantão, como impedir as espiadelas dos indesejados? Etc e tal.

Exageros à parte, embora o jogo nos seduza – por um lado, pela fé em controlar o imaginário alheio, por outro, pela possibilidade de se dar espiadelas –, é verdade que nesta rede nem tudo é falso e que nela reencontramos amáveis figuras que um dia cruzaram por nossa vida. É... pode ser que sim, diria meu marido.

Já nos blogues, a brincadeira (séria) é com as palavras, com as histórias que nem precisam falar de seu autor, (mas que, evidentemente, os expõem muito...). Nesse espaço virtual, os temores assemelham-se aos do orcute. Serei acessado? Sem leitor, para que autor? A ausência de comentários, de seguidores, é mais frustrante do que qualquer comentário negativo. A falta explícita de interlocutores é a pena maior para quem escreve. Há, evidentemente, outras razões para a não inserção no mundo dos blogues. Ocorre-me, agora, a decisão do professor Luís Augusto Fischer, que desfez seu blogue, entre outros motivos, pela “desconfortável sensação de que o estava enviando para lugar nenhum e portanto para leitor algum” e, ainda, pela agressividade ou tolice de alguns comentários recebidos.

Mas, no caso do Renxaqueca, não houve relutância. Ele sabia que iria expor duas de suas mais nobres qualidades: escrever bem (conteúdo&forma) e rabujar bem. Acostumou-se a falar para coletividades. Recadinhos aqui e ali para um e outro em particular são interessantes, mas não tocam profundamente a alma de jornalista. O negócio dele são, no mínimo, os grupos. Não basta dizer olá, como vai, feliz aniversário. O que o move são a análise dos acontecimentos e as histórias a serem contadas.

Quanto aos distintos tipos de exposição virtual, parece que, atualmente, expor é palavra de ordem. Quem não está na vitrine não é lembrado!

sábado, 26 de setembro de 2009

Gauchismo – parte I

Li em crônica de Ricardo Silvestrim frase que sintetiza minha aflição acerca do que é ser gaúcho. Na verdade, o cronista tocava em outro assunto. Em texto que recomendo (Jovens, adultos e velhos), criticava o nosso ensino de literatura por centrar-se no que é nacional e contemporâneo. Ocorreu, porém, que a frase de Silvestrin caiu como luva para o sentimento bairrista que tem sido alimentado em nossas bandas nos últimos tempos. Eis suas palavras: “A valorização do que é nosso distorce o nosso valor. Não nos vemos em relação aos outros. Só em relação a nós mesmos.”

Puxa vida, mas é exatamente isso que penso sobre o egocentrismo pampeano. Há muito incomodam-me certas manifestações rançosas nomeadas em frases como “orgulho do Rio Grande”, “ah, eu sou gaúcho”, além de gritos inflamados em shows em que o artista é aclamado gaúcho, como se essa fosse a maior expressão de reconhecimento. “Ucho, ucho, ucho, Roberto é gaúcho”. Bairrismo, provincianismo, separatismo. Os ismos são variados e seus tons, não bastassem o ridículo, por vezes, são assustadores pelo que representam de sectarismo.

Na semana passada, tempo de festa Farroupilha, ZH destinou espaço para o causo de um paulistano que andou se estranhando com certas gauchadas ofensivas. Funcionário público, há três anos morador de São Borja, Sandro Amoroso Pacheco afirmou em mídia local que seu principal objetivo é deixar o Rio Grande. A certeza de que alcançará o feito foi anunciada em uma frase engraçadíssima, que ZH chamou de desabafo: “Acredito que vou conseguir (deixar o RS), pois não há pena perpétua no Brasil”.

Pacheco ressaltou, porém, que aos seus conterrâneos falta essa “prova de amor” a sua terra. Evidentemente que o amor à própria terra é algo positivo, alimenta a auto-estima e faz com que o povo - forte, aguerrido e bravo - enfrente suas crises e ainda considere-se modelo a toda terra.

Contudo, é preciso que de fato nos vejamos em relação aos outros, que façamos isso de modo solidário, observando as qualidades alheias e reconhecendo nossas deficiências. O Rio Grande do Sul é, realmente, um Estado singular. É em nome de sua admirável singularidade que espero não vê-lo tornar-se um estado de gente arrogante!

Pois é... o assunto rende. Falarei mais a respeito em outra ocasião.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Aspiração

Solta de língua,

Faço nossa a tua palavra

Mostrando a língua,

Seja feita a nossa parola

Tempo para desabrochar

Nascida no outono, estou a poucas horas de completar minha 41ª Primavera. Daí que, inspirada pelas vindouras florescências do período primaveral, e pela natural imposição dos ofícios – de jornalista e professora – decidi ingressar neste espacinho da parolagem virtual. Afinal, por que não bloguear?

Aliás, na atualidade, vivemos o auge das conversas digitadas, virtuais, como se costuma dizer. Desabrocho, pois, meu desejo contido de aderir a este universo com o qual até há algum tempo – confesso a timidez – eu não simpatizava.

Mas, lembrando Vinícius (Filhos... Filhos? / Melhor não tê-los! / Mas se não os temos / Como sabê-lo?), experimentarei saber como é essa vida de blogueiro, embora concorde – em parte – com o que Clarice diz logo aí adiante...

Por ora, me despeço (A propósito, sobre minha parcial discordância de Clarice falarei em outra oportunidade). Fiquem com ela:

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." (Clarice Lispector)